Protesto
Agricultores fazem manifestação contra proposta de reforma da previdência
Pequenos produtores rurais da região foram até a frente do INSS protestar contra mudanças na aposentadoria
Paulo Rossi -
Atualizada às 18h40min.
Responsável por 70% da comida que vai à mesa dos brasileiros, segundo o IBGE, a agricultura familiar foi na manhã desta quinta-feira (16) às ruas protestar. A classe é contra o fim dos Ministérios do Desenvolvimento Agrário e da Previdência Social e marcou posição contrária à reforma da previdenciária que o presidente interino Michel Temer (PMDB) pretende levar ao Congresso Nacional até o final de junho. Em Pelotas, 18 municípios estiveram reunidos em ato que começou no largo do Mercado Central e culminou na entrega de uma carta à gerência regional da agência do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) na cidade.
O protesto teve início às 9h30min da manhã e esperou até que os ônibus de todas as 18 cidades participantes chegassem ao Mercado Central. Com o grupo completo, caminharam até a sede do INSS em Pelotas, na rua Santa Cruz, entre Barão de Butuí e Princesa Isabel, onde os trabalhadores colocaram nas grades bandeiras, faixas e cartazes. Na sequência, houve um momento de tribuna popular - sem palanque, porém, com todos no mesmo nível - e os motivos que levaram os trabalhadores a se manifestar foram relembrados. Por fim, uma comissão foi formada para entregar a carta com as reivindicações à gerente regional do INSS, Carmen Miranda, que a encaminhará ao Ministério do Trabalho e Previdência Social.
A Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (Fetag-RS) afirma que o principal motivo da mobilização é a luta por direitos adquiridos. "Somos um setor de muita importância no país. Queremos que não haja mudança, que o governo olhe para nós", disse ao Diário Popular o vice-presidente da instituição, Nestor Bonfanti.
Segundo os organizadores, foram 1,3 mil manifestantes que ocuparam as ruas do Centro, empunharam bandeiras e gritaram pela manutenção de direitos adquiridos com muita luta. Para os agentes de trânsito que acompanharam o ato, foram 800. Independentemente de números, a presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Santana da Boa Vista, Joice Marciele Simões, diz que a mobilização mostra a força de uma categoria que responde por 21% do PIB nacional, 27% dos empregos e 43% das exportações.
Dentre as pessoas presentes estavam Carmen Fonseca, Nerusa Wrague e Neusa Collpo, representantes das mulheres trabalhadoras rurais, que podem ter a idade mínima para a aposentadoria aumentada de 55 para 65 anos com a reforma previdenciária. "A agricultura familiar é a base da sociedade. Estamos aqui em mil porque se estivéssemos todos, o país não funcionaria", diz a primeira, que reclama do fato de os filhos terem de abandonar o meio rural por conta das dificuldades em lá viver.
Engrossa seu coro o agricultor Antônio Dutra. "Somos nós quem produzimos para o povo da cidade. Querem aumentar nossa idade mínima para aposentadoria, mas só quem vive no campo sabe o rigor que é", diz, referindo-se ao fato de acordar diariamente às 5h e trabalhar na lavoura.
Em todo o Brasil
No Rio Grande do Sul, além de Pelotas outras quatro cidades realizaram atos de trabalhadores rurais nesta quinta: Ijuí, Santa Maria, Passo Fundo e Caxias do Sul. Fora do Estado a mobilização não foi menor, tendo o Ministério do Desenvolvimento Agrário e o Ministério da Previdência Social sido ocupados em Brasília - neste último cerca de dez mil manifestantes participaram.
De acordo com o presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), Alberto Ercílio Broch, trata-se apenas do começo de uma grande mobilização nos 27 estados e no Distrito Federal, que quer levar cem mil pessoas às gerências e agências do INSS e do Instituto Nacional de Colonização de Reforma Agrária (Incra).
A assessoria de imprensa do Ministério do Trabalho e Previdência Social informou à Agência Brasil já ter se reunido com os manifestantes.
Direitos que os agricultores exigem manter:
- Salário-maternidade
- Pensão por morte
- Auxílio-reclusão
- Auxílio-acidente
- Auxílio-doença
- Aposentadoria de 55 anos para mulheres e 60 para homens
Outras reivindicações:
- Reestruturação de ministérios: no governo Temer, o Ministério do Desenvolvimento Agrário deixou de existir, sendo fundido com o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Em outra mudança, suas atribuições foram acomodadas na Casa Civil. Da mesma forma foi extinto o Ministério da Previdência Social, que agora funciona como Ministério do Trabalho e Previdência Social.
- Prosseguimento dos programas de habitação rural: os trabalhadores querem continuar com a política anterior, com os sindicatos e cooperativas organizando as pessoas. No dia 10 de junho, o presidente interino, Michel Temer, alterou as regras, impossibilitando tais entidades de agir, dando poder unilateral ao Ministério das Cidades.
70% da produção de alimentos no Brasil provém da agricultura familiar (Fonte: IBGE)
Quatro milhões de famílias trabalham com a agricultura familiar no Brasil (Fonte: IBGE)
Distribuição do valor de benefícios concedidos no Brasil:
92,42% zona urbana
7,59% zona rural
(Fonte: Boletim Estatístico da Previdência Social)
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